CURITIBA HOJE
CURITIBA, DOMINGO, 26 DE NOVEMBRO DE 1989
RECITAL COMENTADO
SALETE CHIAMULERA
Os sons e a música quer como comunicação em si, ou como ambientação e expressão, é uma realidade indiscutÃvel em nossas vidas.
Ouvir é essencial, porém ainda mais primordial é escolher o quê se quer ouvir. Tem sido uma constante da atual vida a baixa (quase inexistente) qualidade do material ouvido pelos homens. Por que não afinar nossos sentidos para consumir um som melhor, uma música que traduza de uma forma mais plena a potencialidade humana de expressar-se através dos Sons?
“Infelizmente, a música dos grandes mestres-Bach, Beethoven, Chopin, Villa-Lobos, para citar alguns exemplos, tornou-se uma possibilidade auditiva de poucos. Observa-se uma grande lacuna entre a minoria de intérpretes e apreciadores desta música com a população de maneira geral; como se este fosse privilégio para poucos entendidos, quando na verdade é preciso apenas a oportunidade para ouvÃ-la, um coração sensÃvel e um mÃnimo de informação/familiarização com a vida e os sons dos compositores.
O recital comentado onde o músico interpreta (e comenta) a obra e a vida destes mestres, apoiado em projeções de slides, é um caminho para diminuir esta lacuna, um elo de ligação entre a minoria que desfruta desta música e a grande maioria do seres ouvintes. Por um momento a música, a obra de arte única, presente auto-suficiente, profunda e complexa, a indiscutÃvel genialidade humana; e, no momento seguinte, o comentário verbal, a linguagem coloquial trazendo para perto de nós um pouco do cotidiano dos compositores nos proporcionando uma familiarização, colocando mais perto da humanidade destes criadores e amenizando o mito de irreversivelmente se estabelece em tomo de um gênio. E, ninguém melhor que o intérprete, que conhece a obra na sua profundidade e intimidade para comentá-la e desmistifica-lá.
É, pois, imprescindÃvel resgatar a sensibilidade humana, dando ao homem a oportunidade de ouvir melhor, com mais possibilidade de escolha. Tornando-se mais sensÃvel, o ser humano estará mais perto para encontrar a plenitude da vida. |