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ENTREVISTA COM H.J. KOELLREUTfER

Realizada em Março de 1991 por: Bernadete Zagonel e Salete Chiamulera e publicada no Periódico Musical Apollon Musagete. – n° 2 – 1991


O maestro e compositor Hans Joachim KOELLREUTTER, nascido na Alemanha e naturalizado brasileiro, é um dos grandes nomes da música contemporânea. Desde 1937, quando se radicou no Brasil, vem contribuindo para a renovação da música erudita em nosso país. Seu destaque como professor se fez sentir em todo o mundo, como fundador de escolas de música na Índia, Japão e no Brasil.

Como compositor destaca-se, como uma das grandes expressões da vanguarda, tendo seu trabalho baseado na “estética relativista do impreciso e do paradoxal”, diferente da estética musical tradicional. Nessa conversa com Bernadete Zagonel e Salete Chiamulera, ambas as Professoras de Música e organizadoras do livro Introdução à Estética e à Composição Musical - H.J. Koellreutter, Porto Alegre 1987, HJ.K. nos fala um pouco de seu mais recente trabalho musical.


AM: O que é a “estética relativista do impreciso e do paradoxal”?

K: É uma estética que parte do ponto de vista de que há um universo sonoro subjacente a todos os fenômenos sonoros, que está além de todos os fenônmenos, e não pode ser percebido pelo homem, aparentando uma ausência de som, ou seja, o silêncio. Assim, o silêncio em verdade, consiste de um universo de sons inaudíveis, não deixando de ser, em última análise, a essência de todas as formas musicais.

Para a estética relativista o som é apenas uma pequena parte do universo sonoro, um no de energia que não está claramente delineado em relação ao todo.


AM: Além da noção de som-silêncio, o que mais seria importante dentro dessa estética?

K: A noção de tempo. O tempo é ma forma de percepção que muda de pessoa para pessoa e cultura para cultura. Tem a função de relacionar as coerências com o ser humano. Se não tivesse ocorrências, não haveria tempo, porque ele é infinito.




AM: Qual a sua mais recente composição?

K: Chama-se Rôdô - Um Monumento. Rôdô é uma palavra japonesa que significa trabalho. Foi criada especialmente para a reinauguração do Teatro José de Alencar, em Fortaleza, cujas obras de restauração duraram dois anos. Escrevi então uma música para os instrumentos e os ruídos utilizados durante a reforma do teatro, ou seja: corrupios, furadeiras, serradeiras, furadeiras e lixadeiras (elétricas e simples), aparelhos de marcenaria, martelos, etc. De executantes (em torno de 95) foram s próprios operários, misturados a um grupo de alunos meus.

AM: Como a peça está estruturada?

K: Ela tem a duração de 12 a 14 minutos, e divide-se em três partes adicionada de um final com coro falado. Na primeira parte, fachos de sons móveis (notas longas que vão mudando de timbre e colorido) são produzidas por um conjunto de serras, corrupios, aspiradores de pó, furadeiras simples e elétricas, cortadeiras de granito e lixadeiras simples. Na segunda parte, não composta, caótica, sons diversos são produzidos por esses instrumentos, associados a máquinas pesadas, latarias diversas, sons vocais, com o intuito de reproduzir toda a sorte de ruídos próprios de uma construção. Como clímax houve uma invasão das motocicletas dos batedores da polícia militar. A terceira parte é uma composição polifônica para martelos de vários formatos. Os silêncios pontuados pelas pancadas ritmadas dos martelos dão uma certa idéia de ordenação após o caos. Para finalizar ou vê-se trechos de um poema de Rossini Camargo Guarnieri. Resumindo: a primeira partiu da idéia da monotonia tediosa, socialmente triste do trabalho dos operários. A segunda, evoca o caos e a poluição sonora das cidades, interrompida pela polícia (a ordem vigente). A terceira representa a transcendência de tudo isso, pela ordem da arte - no caso, a polifonia dos martelos.

AM: O que o senhor entende por “caos”?

K: Sob o ponto de vista estético, o caos também é ordem, e resulta da equivalência dos valores. E um conceito da probabilidade. Se todos os elementos têm o mesmo valor estatístico, acontece o caos.

AM: E agora, quais as suas perspectivas de produção?

K: Estou trabalhando em WU LI, inspirado principalmente nas rendas do Ceará. Nas rendas porque esta música é escrita em forma de diagrama. É como a fotografia: há a imagem positiva e negativa. Os sons se tornam silêncio e os silêncios se tornam sons.

AM: O que significa WU LI?

K: Estas palavras chinesas, se pronunciadas como escritas em português significam: estruturas de energia orgânica, caminho, contra-senso, iluminação, perseverança das idéias.

AM: E do que consta estas peça?

K: Trata-se de uma música experimental, onde o experimentador é o centro da atuação artística. Não é uma obra musical mas um ensaio. Encontra-se entre a música composta e a improvisada. Acredito que o concerto como expressão social da música não interessa mais à sociedade. No futuro, será substituído pela apresentação em público de improvisações individuais e/ou grupais espontâneas. WU LI é uma música objetiva que desconhece a divisão rigorosa entre as realidades subjetiva e objetiva. O dualismo compositor/intérprete-ouvinte deixa de existir pois intérprete e ouvinte tornam-se co-autores.

AM: Qual a técnica de composição usada?

K: É uma composição planimétrica, ou seja, uma maneira específica de ordenar música estruturalista, em que unidades estruturais substituem os tradicionais elementos da música (melodia, harmonia, tempos fortes, etc.).

AM: O que o senhor considera essencial para o compositor?

K: Acho que ele não deve visar trabalhos para a posteridade. Deve aprender a trabalhar para a sociedade na qual vive, assimilar a realidade atual e fazer música funcional.

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